Síntese de ideias sobre aprendizagem ativa.
Afinal o que é a aprendizagem ativa?

A aprendizagem ativa engloba um conjunto de abordagens relacionadas com a capacidade de criar experiências significativas de aprendizagem, dentro e/ou fora das salas de aulas. Existem muitas formas de conceptualizar a aprendizagem ativa, pretendendo-se aqui apresentar uma síntese de ideias sobre aprendizagem ativa e abordagens à sua implementação, de forma referenciada e disponibilizando um glossário de termos que possam ajudar os professores a iniciar-se e/ou posicionar-se em relação a estas abordagens. Não se pretende que este glossário seja completo ou conclusivo, antes que seja aberto e em evolução, e principalmente, que seja útil.

A expressão “aprendizagem ativa” abrange diversas abordagens, todas elas centradas na autonomia do estudante, no seu envolvimento, na sua ação e na reflexão sobre a sua aprendizagem. O glossário abaixo apresentado lista algumas dessas abordagens, optando-se nalguns casos por manter a terminologia em Inglês, por ser mais facilmente identificável: Team Based Learning - TBL; Aprendizagem Baseada em Problemas (Problem Based Learning - PBL); Aprendizagem Baseada em Projetos (Project Based Learning - PBL); Aprendizagem Baseada em Serviço (Service Based Learning - SBL); Peer Instruction; Buzz Group Discussion; Casos (Case Study); Gamificação; Just-In-Time Teaching; Research Based Learning; Sala de Aula Invertida (Flipped Classroom); (One or Two) Minute Paper.

As abordagens de aprendizagem ativa podem ser analisadas num continuum em função do nível de autonomia dos estudantes e, consequentemente, do nível de complexidade da sua implementação. O continuum apresentado na Figura 1 é inspirado numa palestra do professor Michael Prince, em 2011.


Figura 1. Continuum da Aprendizagem Ativa

Conceito

Descrição

Referências

Aprendizagem Ativa

Termo que enquadra um conjunto de abordagens que visam envolver os estudantes no processo de ensino e de aprendizagem, a partir de experiências significativas que permitam aos estudantes compreender a relevância do que aprendem e para quê. Um ambiente de aprendizagem ativa é, assim, caracterizado pelo envolvimento do estudante, através do seu entusiasmo, ação e reflexão sobre o seu próprio processo de aprendizagem.


Rebecca Brent and Richard Felder's Website: https://educationdesignsinc.com



Christie, M., & de Graaff, E. (2017). The philosophical and pedagogical underpinnings of active learning in Engineering Education. European Journal of Engineering Education, 42(1), 5-16.

https://doi.org/10.1080/03043797.2016.1254160 



Diferentes estratégias de aprendizagem ativa podem ser utilizadas, considerando os objetivos subjacentes ao processo de ensino e de aprendizagem. Por outras palavras, existem estratégias que promovem mais ou menos a autonomia do estudante em determinado contexto.

Continuum Aprendizagem Ativa, 

M. Prince (2011)

https://www.asee.org/documents/conferences/annual/2011/plenary-michael-prince.pdf

Evidências da eficácia da aprendizagem ativa:


Prince, M. (2004). Does active learning work? A review of the research. Journal of Engineering Education, 93(3), 223-231. https://doi.org/10.1002/j.2168-9830.2004.tb00809.x 


Freeman, S., Eddy, S. L., McDonough, M., Smith, M. K., Okoroafor, N., Jordt, H., & Wenderoth, M. P. (2014). Active learning increases student performance in science, engineering, and mathematics. Proceedings of the National Academy of Sciences111(23), 8410-8415. https://doi.org/10.1073/pnas.1319030111 

https://www.pnas.org/content/111/23/8319


Aprendizagem Baseada em Equipas (Team Based Learning - TBL) 

O “Team Based Learning”, traduzido para “Aprendizagem Baseada em Equipas”, é uma estratégia de ensino colaborativo baseada em evidências,  que tem como base um ciclo de três etapas: preparação individual (resolução de um teste garantia de preparação, IRA - Individual Readiness Assignment), resolução em equipa (Group Readiness  Assignment) e exercícios de aplicação. 

A estratégia TBL é adaptável a pequenos e grandes grupos, ao permitir trabalhar com turmas grandes em formatos de equipas pequenas.

Haidet, P., McCormack, W. T., & Kubitz, K. (2014). Analysis of the team-based learning literature: TBL comes of age. Journal of Excellence in College Teaching, 25(3&4), 303-333. https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC4643940/ 


Team-Based Learning Collaborative website. Retrieved from www.teambasedlearning.org


Aprendizagem Baseada em Problemas (Problem Based Learning - PBL)

Esta estratégia tem o “problema” como um elemento central do processo de ensino e de aprendizagem. Os estudantes trabalham num ambiente colaborativo que lhes permite identificar o que já sabem e o que precisam de saber, desenvolvendo pesquisa e análise de informação que lhes permita resolver o problema em questão. O “problema” é, assim, definido e selecionado de acordo com os objetivos de aprendizagem. Este princípio é fundamental, na medida em que permite que o conteúdo de uma determinada disciplina seja relacionado com o contexto inerente ao problema, contribuindo, desta forma, para a compreensão e motivação do estudante.

Savin-Baden, M. & Howell, M. C. (2004). Foundations of problem-based learning. New York: McGraw-Hill Education.


Graaff, E. D., & Kolmos, A. (2003). Characteristics of problem–based learning. International Journal of Engineering Education, 19(5), 657-662.

http://www.ijee.ie/articles/Vol19-5/IJEE1450.pdf 

Aprendizagem Baseada em Projetos (Project Based Learning - PBL)

Trata-se de uma abordagem que integra o desenvolvimento de uma solução para um problema aberto, em que os estudantes devem ser capazes de formular o problema antes de desenvolver a sua solução.

Lidando com um problema aberto, as equipas de estudantes podem desenvolver várias soluções, permitindo a criatividade e a inovação. Os professores atuam como facilitadores, mentores ou supervisores, dependendo da fase do projeto e do ambiente de aprendizagem desenvolvido para o efeito. Na maioria das situações, a abordagem por projetos é desenvolvida durante um período de tempo maior (por exemplo, um semestre) do que a abordagem por problemas (por exemplo, 4 semanas).


Edström, K., & Kolmos, A. (2014). PBL and CDIO: Complementary models for engineering education development. European Journal of Engineering Education, 39(5), 539-555. 

https://doi.org/10.1080/03043797.2014.895703 


Lima, R.M.,  Dinis-Carvalho, J., Sousa, R. M., Alves, A. C.,  Moreira, F., Fernandes,  S., & Mesquita, D. (2017). Ten years of

project-based learning (PBL)  in Industrial Engineering and Management at the University of Minho.  In A. Guerra, R. Ulseth & A. Kolmos (Eds.).  PBL in Engineering Education International Perspectives on Curriculum Change (pp. 33-52).  Rotterdam: The Netherlands Sense Publishers.


Aprendizagem Baseada em Serviço (Service Based Learning)

É uma estratégia que se baseia na premissa de que os estudantes podem mobilizar as suas competências, entusiasmo e energia para apoiar uma organização, instituição ou comunidade na resolução de um problema real. Este contexto surge como uma oportunidade de aprendizagem dos conteúdos, levando a uma experiência de aprendizagem significativa. 

Lima, M., & Oakes, W. C. (2014). Service learning: Engineering in your community (2nd Edition). New York, NY: Oxford University Press.

Buzz Group Discussion

É uma estratégia em que pequenos grupos (3 pessoas) discutem sobre um determinado assunto, de forma a produzir várias ideias sobre o mesmo num período curto de tempo. “Buzz” refere-se ao som gerado pela intensidade da discussão em grupos.

Renner, P. (2005). The art of teaching adults: How to become an exceptional instructor and facilitator. Vancouver: Training Associates. 

Casos (Case Study)

É uma estratégia que incide na análise detalhada de uma situação real, complexa e aprofundada, que envolve um processo de tomada de decisão. Esta análise deverá permitir que os estudantes sejam capazes de mobilizar um conjunto de competências associadas aos resultados de aprendizagem no qual esta estratégia se insere. 

Kaplan, A. (2017). European management and European business schools: Insights from history of business schools. Management Research. UK: Routledge, p. 211-225.

Gamificação

Utilização dos elementos de design de jogos em contextos não lúdicos, com vista a criar um ambiente de envolvimento semelhante ao dos jogos, com possibilidades de tentativa e erro, para motivar a ação, promover a aprendizagem e resolver problemas. A título de exemplo, entre os elementos de design de jogos podem-se referir, entre outros, desafios, esquemas de pontuação, badges, pressão de tempo, colaboração, conquista.

Zichermann, G., & Linder, J. (2013). The gamification revolution. McGraw-Hill.


Kapp, K. (2012). The gamification of learning and instruction: Game-based methods and strategies for training and education. San Francisco: Pfeiffer. 

Just-In-Time Teaching

Esta estratégia promove uma ligação intencional entre as atividades realizadas fora do período da sala de aula e as atividades realizadas em sala de aula. É, por isso, uma estratégia em que o conhecimento prévio do estudante é tido em consideração na preparação da própria aula. Num primeiro momento, o professor lança exercícios ou questões de aquecimento, a serem respondidas pelos alunos antes da aula e cujos resultados permitem ao professor planear a abordagem da aula considerando as potenciais dificuldades ou interesses dos estudantes. Trata-se de uma estratégia que pode ser potenciada com a introdução de tecnologias.  

Novak, G., Patterson, E., Gavrin, A., & Christian, W. (1999). Just-in-time teaching: Blending active learning with web technology. Upper Saddle River: Prentice Hall.

One (or Two) Minute Paper

É uma estratégia utilizada para efeitos de avaliação formativa, em que, no final da aula, o professor solicita aos estudantes que, individualmente, escrevam sobre o tema abordado na aula, através de uma ou duas questões por ele colocadas. Estas questões têm como objetivo principal potencializar a aprendizagem dos alunos através da avaliação (assessment for learning). Também é um mecanismo útil para obter feedback sobre as aulas, podendo ser usado no final de um bloco de aulas dedicado a um determinado tema.

Light, G., & Coz R. (2001). Learning and teaching in higher education:Tthe reflective professional. London: Paul Chapman. 


Angelo, T. A., & Cross, K. P. (1993). Classroom assessment techniques: A handbook for college teachers. Wiley.


Peer Instruction

É uma estratégia que prevê o envolvimento dos estudantes fora da sala de aula, a partir de leituras prévias, visualização de conteúdos multimédia ou respondendo a questões sobre esse mesmo material. Posteriormente, em sala de aula, o professor envolve os estudantes a partir de questões conceptuais (Concept Tests) relativos ao material analisado anteriormente, antes da aula. De seguida, espera-se que os estudantes aprendam entre pares, ou seja, através de discussões em pares ou pequenos grupos. O professor tem um papel de facilitador do processo, sendo fundamental os momentos de feedback e esclarecimento de dúvidas que os estudantes possam apresentar.

Mazur, E. (2015). Peer instruction: A user's manual. Upper Saddle River: Prentice Hall.

Sala de Aula Invertida (Flipped Classroom)

É uma abordagem pedagógica em que os tempos e os espaços inerente  ao processo de ensino e aprendizagem se invertem: a exploração dos conteúdos é primeiramente feita antes da aula pelos estudantes (por ex. através de leituras, análise de vídeos, etc.), num espaço que tende a ser mais individual do que em grupo; na aula os alunos têm a oportunidade de interagir com o professor e entre si, num espaço fundamentalmente de grupo, com vista a aplicar, desenvolver, esclarecer o conteúdo previamente explorado. Esta inversão transforma, assim, o processo de ensino-aprendizagem numa lógica interativa, dinâmica e pessoal.

Bergmann, J. (2014). Flipped learning: Gateway to student engagement. International Society for Technology in Education.

Research Based Learning

Esta abordagem implica que a aprendizagem seja desenvolvida a partir de atividades de investigação, no sentido de promover a criação e o desenvolvimento de novos conhecimentos. O desenvolvimento da aprendizagem é focado em processos de investigação, como a identificação de um problema, a definição de questões de  investigação, o desenho metodológico, a recolha e análise de informação. O tipo de investigação dependerá da área disciplinar e dos objetivos de aprendizagem.

Healey, M., & Jenkins, A. (2009). Developing undergraduate research and inquiry. York: Higher Education Academy.


Healey M., Jenkins, A., & Lea, J. (2014). Developing research-based curricula in college-based higher education. York: Higher Education Academy. 



Autoria:  Rui M. Lima, Diana Mesquita

Coordenação: Centro IDEA-UMinho

Edição: Gabriel Hornink, Rui Lima, Flávia Vieira


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