O Professor Peter Felten (Center for Engaged learning, Universidade de Elon, Estados Unidos da América) respondeu a várias perguntas e deixou sugestões (tips) aos participantes da Edição #1 da iniciativa "Docência+ IMPACTO”, na Masterclass que lecionou no evento

Sintetizam-se aqui as respostas às questões.



This is an extraordinary time to be talking about teaching and learning in higher education.

Peter Felten, 29 de janeiro de 2021

Pontos introdutórios:

  • As respostas às questões e as sugestões foram fornecidas na perspetiva de quem está no contexto Norte-Americano tendo sido feito um convite a todos para refletirem sobre a adaptabilidade a cada contexto;

  • A pandemia mudou praticamente tudo o que se relaciona com o ensino no Ensino Superior - dos formatos aos espaços e à forma como ensinamos - com impactos evidentes sobre professores e estudantes;

  • Tomando uma perspetiva positiva, surgiu uma oportunidade sem precedentes para transformar as práticas de ensino e aprendizagem num espaço para mudança impensável anteriormente.


3 Ideias, 3 Transformações incontornáveis:

  1. Talvez haja uma oportunidade única de ligar as atividades letivas com o que se passa no mundo; a necessidade generalizada de compreensão da pandemia abre portas de entrada para várias disciplinas mostrarem como podem ser necessárias à compreensão do mundo;

  2. Está-se perante uma disrupção evidente dos papéis tradicionais dos professores e dos estudantes; os estudantes têm um controlo maior sobre quando e como aprendem, o que recomenda uma re-conceptualização de ambos os papéis num contexto em que o digital é uma realidade para ambos;

  3. Surgiu uma perceção de que ensinar tem de mudar duma atividade que os professores fazem muitas vezes isoladamente (situação descrita pelo termo “pedagogical solitude”[1]) para uma atividade em comunidade, com colaboração entre colegas e entre professores e estudantes - “from an individual “sport” to a team “sport”).


Perguntas, respostas e sugestões para a prática (com tips concretas):


Pergunta

Resposta

Sugestões para a prática

Perante toda a transformação, haverá um elemento-chave essencial para que as experiências de ensinar e de aprender sejam bem sucedidas?

Poderá não ser um elemento único, mas o fator mais importante para assegurar o sucesso dos estudantes a vários níveis (académico, bem estar, vida profissional futura, etc.), de acordo com as melhores evidências, é a qualidade das interações que têm lugar

Os momentos de ensino devem ser desenhados para que seja privilegiada a qualidade das interações dos  estudantes com os docentes, os conteúdos e com os seus pares.  

É possível assegurar interações de qualidade quando todo o ensino é online?

Sim, mas é necessário abordar o design  do ensino de forma diferente da presencial;


Há uma instituição nos EUA que funciona exclusivamente online e que obtém os melhores resultados a nível nacional, num censo anual de “student engagement”; [2]


É essencial reconhecer que não é possível manter ou transpor a estrutura do ensino presencial para o espaço online e passar a privilegiar-se o tempo síncrono para interações entre os participantes..

Para fomentar a qualidade de interações entre estudantes

TIP 1 (informal): no início de uma atividade síncrona, alocar uns minutos para os estudantes conversarem entre si em pequenos grupos  “breakout rooms” respondendo a 2 questões: 1 mais social , outra relacionada com a atividade letiva;

TIP 2 (formal): incluir trabalho colaborativo estruturado obrigatório para os estudantes, fragmentando eventualmente aulas que eram teóricas; pontuar a qualidade dos resultados. 

Que mudanças antevê para o futuro do ensino superior?


A pressão para o uso da tecnologia digital será tendencialmente crescente e haverá mais e mais estudantes a perguntar qual o motivo para se deslocarem aos campi;


Poderemos fazer um ensino melhor explorando as tecnologias digitais.Um estudo em UCs introdutórias de Biologia, concluiu que, para a mesma UC, o  formato híbrido teve resultados superiores quando comparado com o online ou presencial [2].


As pressões sobre os estudantes nesta fase têm também impacto sobre a saúde mental dos estudantes. Um estudo australiano concluiu que a forma como os professores ensinam é um determinante muito relevante para a saúde mental dos estudantes [3].

Refletir e encontrar formas para aumentar a intencionalidade do tempo presencial nos seus objetivos e práticas programando a sua integração com o tempo  online.


Como tornar mais humano o ambiente online?

A perceção de que falta um ambiente humano no ensino online é uma realidade transversal.

TIP 1: a forma como o professor se apresenta à turma é muito importante: experimentar mostrar uma fotografia antiga da família e contar um pouco da nossa história familiar;

TIP 2: se possível, estabelecer programas de tutorias por pares.

Como conseguir mais estudantes com  câmaras ligadas?

Este é um tema controverso, frequentemente abordado.

Refletir conjuntamente com os estudantes sobre os motivos para as câmaras estarem  ligadas e construir um ambiente convidativo para as ligarem;

TIP 1: criar essa expetativa quando a atividade é uma conversa, não quando for expositiva. É importante conversar com os estudantes em vez de falar para os estudantes

TIP 2: disponibilizar um mini-guia para os estudantes mudarem o seu fundo virtual.

Como lidar com turmas grandes online?

Regressar às perguntas anteriores sobre a humanização e sobre a qualidade das interações.

TIP 1: dar aos estudantes a noção que nos preocupamos ao chamá-los pelo nome [4];

TIP 2: chamar estudantes de anos avançados para fazerem parte da aula, oferecendo apoio aos estudantes mais novos (em breakout rooms);

TIP 3: integrar testes colaborativos nas UCs (testes em que os estudantes fazem uma parte individualmente, e outra parte em equipa)[5].

Como estimular a curiosidade dos estudantes?

Pensar que a curiosidade é uma prática e não uma característica do indivíduo.

TIP 1: ser claro nos objetivos das UCS, referindo explicitamente  que pretendemos que os estudantes sejam curiosos;

TIP 2: estimular a formulação de questões por parte dos estudantes e criar um ambiente que tolere o erro nas perguntas;

TIP 3:  pedir aos que escrevem sobre temas relacionados com os conteúdos  em diferentes momentos e estimular a curiosidade no feedback sobre os mesmos.

O que é mais negativo e que devemos cuidar para que não permaneça no futuro?

A ideia de que a tecnologia resolve os problemas da aprendizagem e do ensino;

A ideia de que se pode espartilhar a educação superior numa coleção de pequenos blocos de conhecimento, pois a educação superior é algo que exige coerência e ligação entre diferentes áreas do conhecimento.




Referências:

  1. Tovar, M., Jukier, R., Ferris, J., & Cardoso, K. (2015). Overcoming Pedagogical Solitude: The Transformative Power of Discipline‐Specific Faculty Learning Communities. To Improve the Academy, 34(1-2), 319-344.

  2. Gavassa, S., Benabentos, R., Kravec, M., Collins, T., & Eddy, S. (2019). Closing the achievement gap in a large introductory course by balancing reduced in-person contact with increased course structure. CBE—Life Sciences Education, 18(1), ar8.

  3. Baik, C., Larcombe, W., & Brooker, A. (2019). How universities can enhance student mental wellbeing: The student perspective. Higher Education Research & Development, 38(4), 674-687.

  4. Cooper, K. M., Haney, B., Krieg, A., & Brownell, S. E. (2017). What’s in a name? The importance of students perceiving that an instructor knows their names in a high-enrollment biology classroom. CBE—Life Sciences Education, 16(1), ar8.

  5. Mahoney, J. W., & Harris-Reeves, B. (2019). The effects of collaborative testing on higher order thinking: Do the bright get brighter?. Active Learning in Higher Education, 20(1), 25-37.




Autoria:  Manuel João Costa

Edição: Gabriel Hornink, Rui Oliveira, Flávia Vieira


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